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    É possível engravidar após um aborto? Explicações sobre aborto e fertilidade

    Atualizado em 21 de dezembro de 2022
    Revisado por EBCOG, Conselho e Colégio Europeu de Obstetrícia e Ginecologia (European Board and College of Obstetrics and Gynaecology)

    Gravidez após aborto é possível? Quem aborta pode engravidar novamente? Uma especialista em fertilidade e uma ginecologista trazem os fatos sobre fertilidade e aborto.

    Aviso de isenção de responsabilidade: as práticas médicas e legislações relativas ao aborto podem variar de acordo com o local. Verifique se o aborto é permitido na sua área. As informações aqui apresentadas são meramente para fins educativos e em nenhuma hipótese devem ser tratadas como incentivo.

    Não importa se o aborto aconteceu há 10 anos ou 10 meses, é compreensível ter dúvidas sobre como isso pode afetar as chances futuras de ter um bebê. Até porque esse tópico pode trazer muitas dúvidas, incluindo como o processo funciona, o que esperar após o procedimento e se um aborto pode afetar sua fertilidade futura.

    Muita gente passa por isso. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 73 milhões de abortos são induzidos por ano em todo o mundo. Isso significa que 61% das gestações indesejadas terminam em aborto, número que chega a 29% de gestações no geral. 

    Pedimos a duas participantes da Junta Médica do Flo, a ginecologista obstetra Dra. Jenna Flanagan e a especialista em fertilidade Dra. Tiffanny Jones, para responder às perguntas mais frequentes sobre fertilidade e aborto.

    É possível engravidar após um aborto? Depois de perder um bebê, quanto tempo demora para engravidar?

    A resposta é sim. É possível engravidar após um aborto e nem é preciso esperar muito. “Uma mulher pode ovular [liberar um óvulo para fertilização] e engravidar antes do próximo ciclo menstrual após um aborto”, afirma a Dra. Jones. Uma pesquisa do Colégio Americano de Obstetras e Ginecologistas confirma essa afirmação. O estudo mostrou que 83% das mulheres ovulam dentro de um mês após o aborto. Isso significa que a gravidez pode acontecer antes do próximo período menstrual.

    Por isso, é muito importante usar contraceptivos eficazes se quiser ter relações sexuais que podem resultar em gravidez indesejada. Vamos entrar em detalhes sobre os diferentes métodos contraceptivos a seguir.

    O aborto pode causar infertilidade?

    Geralmente, a infertilidade é uma das maiores preocupações depois de um aborto, mas os resultados dos estudos são promissores.

    “As pesquisas não indicam nenhum impacto na fertilidade futura de pessoas que passam por um aborto [com supervisão médica]”, a Dra. Flanagan diz ao Flo. Isso vale para abortos cirúrgicos ou medicados, não importa o trimestre de gravidez. Porém, é essencial que o aborto seja realizado com segurança.

    A Dra. Flanagan explica o que isso significa: “No geral, não há aumento de risco na fertilidade futura após um aborto, não importa o estágio da gestação, desde que seja feito com um profissional licenciado e seguindo as diretrizes que ajudam a garantir a segurança e saúde das pacientes”.

    No caso do aborto cirúrgico, há um risco mínimo de ficar com uma cicatriz no útero, devido ao microtrauma no revestimento uterino causado pelos instrumentos médicos, principalmente se a pessoa contrair uma infecção, o que pode dificultar uma gravidez futura. Por isso, é importante relatar imediatamente à equipe médica qualquer corrimento incomum ou aumento na dor. 

    “No entanto, isso é muito raro e geralmente pode ser diagnosticado e tratado com um simples procedimento ambulatorial depois do aborto para otimizar a fertilidade futura”, esclarece a Dra. Flanagan. E esse risco não se restringe ao aborto cirúrgico. A cicatriz também pode aparecer quando instrumentos médicos são usados no útero em outros procedimentos, como “a cirurgia para tratar uma perda gestacional ou a inserção de uma câmera (histeroscópio)”. Em caso de preocupação, sempre converse sobre sua saúde com um médico.

    Como o Flo pode ajudar você?

    O aborto afeta gestações futuras?

    “Geralmente, não”, conta a Dra. Jones. “No entanto, futuras gestações podem carregar mais riscos em caso de complicações [depois do aborto]. Quando o útero passa por várias cirurgias, uma gravidez futura pode apresentar um risco maior de crescimento anômalo da placenta no músculo do útero”. 

    Entretanto, a ciência não tem uma resposta clara quando se trata de aborto e do risco de trabalho de parto prematuro em outra gravidez. Uma revisão de evidências científicas feita em 2015 por pesquisadores estadunidenses e italianos descobriu que a remoção do saco gestacional depois de um aborto espontâneo ou induzido (também conhecida como “evacuação uterina”) é um fator de risco para o trabalho de parto e nascimento prematuros. Mas em um estudo escocês com mais de 120 mil mulheres que abortaram, o risco de trabalho de parto prematuro foi menor do que para aquelas que perderam o bebê. 

    Por fim, a Dra. Flanagan reafirma: “O nascimento prematuro após um aborto não costuma ser um risco discutido justamente por ser tão pequeno (se houver), e muitos estudos trazem dados conflitantes”.

    Uso de contraceptivos depois de um aborto: que tipo de anticoncepcional você pode usar?

    É possível usar a maioria dos contraceptivos após um aborto cirúrgico ou induzido por medicamentos, com uma exceção: 

    “O dispositivo intrauterino só pode ser colocado em uma consulta de acompanhamento após um aborto medicado, pois é importante garantir que o processo abortivo foi concluído e que é possível inserir um DIU no útero com segurança”, explicou a Dr. Flanagan. “No caso do aborto cirúrgico, a equipe médica pode inserir um DIU ao concluir a cirurgia como parte do procedimento”.

    “Recomendamos o uso imediato de um contraceptivo logo após ou no momento do aborto para evitar outra gravidez, se você não quiser engravidar, pois a ovulação pode ocorrer de duas a quatro semanas após um aborto, ainda antes da próxima menstruação”.

    Outras opções incluem “pílulas, adesivo ou anel vaginal, além do implante contraceptivo, que podem ser usados imediatamente ou um pouco depois da ingestão de medicamentos para o aborto”, afirma a Dra. Flanagan. São também eficazes depois de um aborto cirúrgico.

    Quando os testes de gravidez são precisos após um aborto?

    Os testes de urina detectam a presença do hormônio da gravidez, a gonadotrofina coriônica humana (hCG). Um resultado positivo indica a presença de hCG no seu corpo. Mas a Dra. Jones faz um alerta para quem procurar fazer um teste de gravidez após um aborto.

    “Pode levar semanas para um teste de gravidez dar negativo mesmo após a conclusão do aborto porque ainda há hCG no corpo e pode demorar um pouco para que os níveis voltem a zero”, explica. Se alguém achar que o aborto não foi concluído ou que houve complicações, deve procurar orientações médicas. Para esclarecer se a gravidez foi interrompida ou não, pode-se fazer exames de sangue para medir a quantidade exata de hCG no corpo e monitorar se o nível do hormônio sobe ou desce.  

    Um aborto medicado incompleto é quando parte do saco gestacional permanece no útero. Geralmente, quando isso acontece, a pessoa tem sintomas contínuos de gravidez, como enjoo ou fadiga. Um sangramento irregular, geralmente acompanhado de cólicas e coágulos, que dura mais do que dois dias, também pode ser um sinal de que algo está errado.  Sintomas de gravidez ou dores persistentes são motivos para buscar aconselhamento médico.

    Emoções depois de um aborto: o que pode ajudar?

    Passar por um aborto pode trazer todo tipo de emoção – de alívio a raiva, passando por tristeza – tudo às vezes ao mesmo tempo. 

    A Dra. Flanagan traz uma palavra de conforto para quem está passando por uma montanha-russa de sentimentos. “Qualquer emoção que você sente é normal”, afirma. “Em momentos diferentes do processo, pode ser que você sinta emoções completamente diferentes. Como eu disse, é normal.” 

    Algumas mulheres e pessoas menstruantes se sentem melhor ao falar com alguém. “Procurar ajuda é uma escolha pessoal, mas ter o apoio de alguém de confiança provavelmente ajudará na recuperação física e emocional. Pode ser um familiar, amigo, terapeuta ou profissional da saúde”, conta a Dra. Flanagan. Você também pode buscar fóruns e grupos de suporte online onde pessoas que passaram por um aborto se sentem seguras para compartilhar suas experiências.

    Referências

    “Abortion.” World Health Organization, www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/abortion. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    “Abortion Care Guideline.” World Health Organization, 8 de março de 2022, www.who.int/publications/i/item/9789240039483. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    “Access to Postabortion Contraception.” American College of Obstetricians and Gynecologists, www.acog.org/clinical/clinical-guidance/committee-opinion/articles/2021/08/access-to-postabortion-contraception. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    Bhattacharya, Siladitya, et al. “Reproductive Outcomes Following Induced Abortion: A National Register-Based Cohort Study in Scotland.” BMJ Open, v. 2, n. 4, de agosto de 2012, https://doi.org/10.1136/bmjopen-2012-000911. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    “Incomplete Abortion.” Science Direct, https://doi.org/10.1016/B978-1-4377-1575-0.10021-0. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    “Incomplete Abortion Management: Recommendations 35-38 (3.5.2) - Abortion Care Guideline.” Abortion Care Guideline - Consolidated Guidelines for Clinical Care, Service Delivery, and Law and Policy, 19 de novembro de 2021, https://srhr.org/abortioncare/chapter-3/post-abortion-3-5/incomplete-abortion-management-recommendations-35-38-3-5-2/. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    Lähteenmäki, P. “The Disappearance of HCG and Return of Pituitary Function after Abortion.” Clinical Endocrinology, v. 9, n. 2, agosto de 1978, p. 101–12. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    Saccone, Gabriele, et al. “Prior Uterine Evacuation of Pregnancy as Independent Risk Factor for Preterm Birth: A Systematic Review and Metaanalysis.” American Journal of Obstetrics and Gynecology, v. 214, n. 5, maio de 2016, p. 572–91. Acesso em: 4 de julho de 2022.

    Histórico de atualizações

    Versão atual (21 de dezembro de 2022)

    Revisado por EBCOG, Conselho e Colégio Europeu de Obstetrícia e Ginecologia (European Board and College of Obstetrics and Gynaecology)

    Publicação (20 de dezembro de 2022)

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